terça-feira, 22 de junho de 2010

Nessa Copa insossa, sul-americanos têm dominado

Até o momento que escrevo - comecei às 10h20 de Brasília, do dia 22 de junho - já transcorreram 32 jogos da Copa do Mundo africana, sendo quatro em cada grupo. Vi a maioria das partidas, pelo menos parcialmente, e ainda não me deparei com um time que desponte como amplo favorito, com futebol envolvente. Quem não assistiu ao massacre de 7 a 0 imposto pela seleção portuguesa à norte-coreana na última segunda, 21, deve ter achado que perdeu o grande jogo da Copa, por ora. Sim, Portugal fez por onde ao golear a não tão tímida equipe asiática, que atacou mais e se fechou menos em comparação ao jogo de estreia, contra o Brasil. Mas, mesmo tendo enfiado uma sonora goleada, não apresentou um futebol à altura dos melhores e inesquecíveis jogos de Copas do Mundo, entravados na minha memória.

A atuação das equipes consideradas favoritas ao título, em virtude da tradição, reflete nas campanhas até o momento. A atual campeã Itália, que já conquistou quatro canecos, conseguiu a proeza de empatar com a Nova Zelândia após ter tido igualdade na primeira partida; a sempre temida Alemanha, que "encantou" os torcedores após ganhar da Austrália por 4 a 0, perdeu pra não tão forte Sérvia; a Inglaterra conquistou dois empates, sendo um com direito a frango do goleiro contra os EUA e outro contra a fraquíssima Argélia; a França, que vive incrível turbulência nos bastidores, com jogador sendo expulso da delegação, está praticamente eliminada, com um empate diante do Uruguai e uma derrota vergonhosa de 2 a 0 para o México; por fim, a forte Espanha, atual campeão europeia e favoritíssima ao título, amargou uma derrota por 1 a 0 para a Suíça na primeira rodada (na segunda ganhou do café-com-leite Honduras apenas por 2 a 0).

Portugal não faz um campeonato ruim, já que empatou com a forte - no sentido literal e metafórico - Costa do Marfim e humilhou a Coreia do Norte. A Laranja Mecânica Holanda, sempre temível adversário, ganhou as duas partidas, mas não apresentou um futebol tão convincente (para passar pelo Japão por 1 a 0, contou com grave falha do goleiro nipônico). As demais seleções europeias - Suíça, Grécia, Dinamarca (outrora Dinamáquina), Eslovênia, Eslováquia e Sérvia - certamente são meras coadjuvantes.

O futebol forte e habilidoso, porém muitas vezes "ingênuo" e "inexperiente" dos africanos, poderia despontar no Mundial... na África. Não será dessa vez. A tradicional Nigéria, que ganhou do Brasil nas Olimpíadas de 1996, perdeu pra Argentina (com gol irregular) e Grécia (de virada). Gana, que conta com alguns bons talentos individuais, ganhou da Sérvia mas empatou com a fraca Austrália. Costa do Marfim passará no Grupo G, onde estão o já garantido Brasil e o praticamente classificado Portugal, apenas por um milagre. Camarões do craque Eto'o, por sua vez, perdeu as duas partidas, para Japão (pasmem) e Dinamarca, de virada. A anfitriã África do Sul mostrou muita vontade na estreia, mas empatou com o México. Já na segunda rodada, não se encontrou e tomou uma surra de 3 a 0 para o Uruguai, que não vai bem numa Copa há tempos. A Argélia, coitada, é horrível. Filho de argelinos, o francês Zidane seria titular na equipe mesmo com 60 anos ou mais.

Os times asiáticos (Japão, Coreias do Norte e do Sul e Austrália, que apesar de ser da Oceania, participa das eliminatórias da Ásia), da Oceania (Nova Zelândia) e das Américas Central (Honduras) e do Norte (EUA e México) são apenas participantes, que precisariam de vários milagres em busco do caneco.

Em meio à tamanha mediocridade, e mesmo sem serem brilhantes, os sul-americanos dominam a Copa do Mundo. Dos cinco representantes do continente, três conquistaram os seis pontos (cada equipe disputou duas partidas até o momento): Brasil, Argentina e Chile. Os outros dois (Uruguai e Paraguai) ganharam um jogo e empataram outro. Todos estão indo bem.

O Brasil suou para vencer a retrancada Coreia do Norte por 2 a 1 e, mesmo sem ser brilhante, brilhou na guerra travada contra a Costa do Marfim, conquistada por 3 a 1 (o jogo sujo dos africanos me enojou). A Argentina ganhou da Nigéria numa partida apenas razoável, e depois sapecou a Coreia do Sul por 4 a 1. Também não foi uma atuação espetacular, com direito a gols oriundos de falhas da arbitragem e do goleiro oriental; mas, de qualquer maneira, impôs respeito ao time liderado pelo cracaço Messi. Os dois arquirrivais históricos - Brasil e Argentina - crescerão muito ao longo do Mundial, ao que parece.

O Chile, por sua vez, fez o dever de casa, ao derrotar Honduras, conseguindo furar o praticamente impenetrável bloqueio suíço, tarefa em que a Fúria Espanhola foi mal-sucedida. E olha que, antes do gol chileno, a Suíça quebrou recorde da Itália ao ser a seleção que mais tempo ficou sem tomar gol numa Copa do Mundo.

No confronto entre os já campeões de mundiais França (um título) e Uruguai (dois), ocorreu um chato 0 a 0, desprovido de emoção. Mas, com o endiabrado Forlán, a Celeste Olímpica tratou de despachar a África do Sul por 3 a 0, placar maiúsculo. Por fim, o Paraguai segurou o ímpeto da tetracampeã Itália, empatando em 1 a 1, e cumpriu com a sua obrigação ao derrotar a Eslováquia.

Ainda não há um grande craque no Mundial, mas alguns destaques, como o alemão Özil, os brasileiros Elano e Luís Fabiano, os argentinos Messi e Higuaín, o espanhol David Villa e o português Coentrão, entre outros. A Copa do Mundo pode - e creio que vai - apresentar rumos diferentes. Não podemos achar que Alemanha, Itália, Espanha e outros europeus são cachorros mortos. Mas, até o momento, numa competição mecanizada, sem futebol-arte, os sul-americanos têm sido mais eficientes e correspondido, pelo menos, às tradições.

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