quarta-feira, 4 de julho de 2012

Iguaria holandesa na pátria amada Brasil

O que representa a contratação de um jogador como Seedorf por um clube que, ao longo de sua centenária e gloriosa história, esbanjou craques como Garrincha, Nilton Santos, Heleno de Freitas, Quarentinha, Didi, Manga, Jairzinho, Paulo César Caju e Leônidas da Silva, entre tantos outros? Como deve ser vista a vinda de um astro natural do Suriname, mas naturalizado holandês, para um time que foi eleito o 12º melhor do século XX aos olhos da Fifa, a máxima entidade do futebol mundial?

Elogios e ótimas expectativas cercam a pioneira ação do Botafogo em trazer, para o exportador futebol brasileiro, um craque europeu do quilate de Seedorf. Não se trata de um ídolo sendo repatriado, mas de um jogador cujas experiências e habilidades foram construídas e mitificadas nos lisos e resplandecentes tapetes europeus. Desde 1958, há um enorme respeito mundial pelo futebol brasileiro, fabricador de inesquecíveis craques e detentor do maior número de Copas do Mundo (cinco, em sete finais). Mas, nunca antes na história deste país - aproveitando um verbete do ex-presidente Lula -, um renomado jogador europeu aceitou o convite de defender um time daqui.

Tudo leva a crer que a comunhão firmada entre o Botafogo de Futebol e Regatas e Clarence Seedorf representa uma grande sintonia de interesses, que deverá acarretar em grandes conquistas para os dois lados. Como já destacado, o time carioca, que é conduzido por sua estrela solitária, é dono de uma história e tradição ímpares no futebol brasileiro. No entanto, desde 1995, quando o caneco do Campeonato Brasileiro repousou em General Severiano, a apaixonada torcida alvinegra não festeja um título à altura da agremiação. O maior destaque do time naquela época, o incansável Túlio dos quase mil gols (segundo suas contas), talvez tenha sido o penúltimo grande ídolo botafoguense, pois em 2010 a locomania elevou o uruguaio Abreu a semelhante patamar.

Li algumas críticas, que mais me parecem sinais de inveja ou dor de cotovelo de torcedores rivais, acerca dos 36 anos do holandês, que podem vir a afetar o desempenho físico e na adaptação ao desconhecido futebol brasileiro. Lógico que futebol é uma caixa de surpresas e esses fatores podem pesar, mas, tratando-se de Seedorf, podemos esperar que não influenciem em sua performance. Ao longo da carreira, o meio-campista sempre demonstrou profissionalismo e vontade e nunca teve uma lesão realmente séria, além de não ter se envolvido em confusões comuns entre jogadores de futebol. O perfil, semelhante ao do maior ídolo vascaíno na atualidade (Juninho Pernambucano), faz valer inteiramente a aposta do Botafogo. O time precisa de um ídolo e de novas conquistas para continuar traçando uma bela história; e o Seedorf merece confiança e um novo desafio profissional. Assim, talvez o Botafogo seja mesmo o time brasileiro ideal para contar com os serviços do craque europeu.

Não podemos prever se o reforço desencadeará a conquista de títulos, mas é certo que a linhagem dos históricos craques botafoguenses ganhará mais um membro. É impossível antecipar o nível de desempenho de Seedorf com a estrela solitária no peito, mas já se nota benefícios relativos ao ambiente e à projeção do Botafogo na mídia mundial. A atual diretoria do clube, que exala seriedade, trabalho e comprometimento, busca certeiramente o resgate do orgulho alvinegro. Golaço de placa!