Dois dos jargões mais comuns no esporte bretão são que o futebol não é uma ciência exata e que uma partida não é ganha fora de campo, antes de se jogá-la. Talvez uma das grandes peculiaridades desse secular esporte resida mesmo no fato de que ele torna possível o sucesso do improvável e a queda do improvável. Não queremos entrar no mérito de discutir tradição, afinal Vasco e Botafogo, finalistas da Taça GB, são gigantes não apenas no cenário brasileiro, mas também no internacional. Temos a intenção de revelar os segredos que emanam de uma grande final como a do último domingo.
Como podemos explicar o sucesso do Botafogo, que depois de despachar na semifinal o Flamengo com uma virada por 2 a 1, conseguiu ganhar do favorito Vasco por 2 a 0? Como um time em frangalhos, após sofrer uma acachapante goleada por 6 a 0, conseguiu se reerguer e chegar ao título do primeiro turno do Carioca?
Todo o sucesso pelo qual o Botafogo justamente desfruta passa pelos dedos, visão e experiência do estrategista Joel Santana, técnico cuja alcunha é "Rei do Rio". Reconhecendo as muitas limitações técnicas do time - o titular não possui jogadores que desequilibram individualmente e não há grandes peças de reposição no plantel -, Santana implantou uma filosofia bem definida no time, que passa pelos cruzamentos aéreos na área e pela paciência em esperar os erros do adversário.
Sem atletas criativos no meio-campo, setor cerebral em qualquer equipe, o alvinegro se posta de maneira fechada em campo, com três zagueiros - Antônio Carlos, Fahel e Fábio Ferreira são os titulares - e dois volantes, sendo um deles, Eduardo, quarto-zagueiro de origem. Mesmo com os escassos cruzamentos do lateral-direito Alessandro, a bola chega na área adversária através do lateral-esquerdo Marcelo Cordeiro e Lúcio Flávio. O atacante uruguaio El Loco, além de exímio cabeceador, também faz bem o trabalho de pivô. Já o hermano Herrera se desdobra em campo, exercendo funções ofensivas e defensivas. O Botafogo é um time eficiente, que cria poucas chances, mas que as aproveita bem, e também sofre poucos perigos na defesa. É um time limitado, mas que joga no limite. Focado. Entregue. Raçudo. Com a estrela do Joel.
Já o Vasco, apesar de ter jogadores reconhecidamente melhores tecnicamente, é um time preso em campo em virtude do excesso de volantes (Nilton, Souza e Léo Gago) e do nulo Élder Granja, que faz figuração e nem de longe lembra o bom jogador dos tempos de Lusa e Inter-RS. Com um lateral-esquerdo ofensivo (Márcio Careca), mas que não cruza, o time depende muito do talento de Carlos Alberto e Philippe Coutinho. Chamou minha atenção como ficaram sozinhos no jogo, sem ninguém para tabelar. O Dodô ficou mais isolado que uma floresta virgem. Por fim, o time continua insistindo em fazer linha de impedimento na defesa - tática suicida -, que é formada pelos lentos Fernando e Titi.
Ao Botafogo, com o atual elenco, não iremos sugerir mudanças táticas. Ao Vasco, vemos a necessidade iminente de escalar a equipe com dois apoiadores e dois atacantes, dois zagueiros mais rápidos (Gustavo e Thiago Martinelli) e um lateral-direito digno de ser chamado como tal. O Fagner merece retornar ao time.
O nó tático imposto pelo Joel Santana ao jovem Vágner Mancini foi claro. Esperamos que o promissor técnico possa tirar lições com a derrota, não apenas no comando do Vasco, que busca se reerguer de vez, mas também em sua ainda embrionária carreira. Parabéns ao time do Botafogo, que estará na final do Campeonato Carioca pela quinta vez consecutiva. Isso se o "Rei do Rio" não conquistar o segundo turno, Taça Rio, evitando uma eventual final carioca.
3 comentários:
O Botafogo mereceu. Solapou o Flamengo e, pragmaticamente, venceu o Vasco.
Espero que, no segundo turno, a tradição rubro-negra se agigante e o lábaro vermelho preto cubra o Rio como um Santo Sudário esportivo.
Abraço,
Fábio
Lábaro vermelho preto? Sudário esportivo? Sai pra lá, Fabão! hahahaha Na final, só vai dar Fogão!!! Fogo olê olê olê
Mereceu mais pela incompetência dos outros do que pelos méritos próprios, na minha opinião.
Espero que no segundo turno o melhor ganhe. Por méritos.
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